por João Luís Carrilho da Graça
[terra]
Para explicar a intervenção gosto de recuar no tempo e começar por imaginar a praia e perto dela um rochedo onde começou por ser contruído um isolado convento arrábido. Num segundo tempo constrói-se esta bela « vila » italiana no centro de uma série de plataformas ajardinadas com as quais se articula. sente-se muito a terra como massa contida da qual nasce a vegetação e as árvores. a terra é ao mesmo tempo o suporte do construído.
O palácio, visto do exterior, tem uma escala pequena e amável. a qualidade e intensidade da sua presença têm mais a ver, sobretudo com os espaços abertos que o envolvem. quando, no entanto, entramos no seu interior, apercebemo-nos de uma escala e um sentido aúlico claramente assumidos. A verticalidade e elegância dos salões é inesperada. esta revelação é sempre mediada por espaços e elementos de transição interior-exterior – terraços, »loggias », varandas, portas e janelas.
A intervenção consiste basicamente na introdução de mais uma plataforma de terra, hoje construída de uma maneira mais complexa e sofisticada que as anteriores. esta plataforma interessa sobretudo como plano de referência num espaço cartesiano. O nível a que se constrói esta plataforma e os seus limites geométricos introduzem uma ordem de diálogo. as suas medidas foram-se fixando e permitindo a pouco e pouco a aceitação do programa e a sua perfeita ligação ao existente. a pequena escala no exterior e a ressonância do palácio no interior. A terra para além de suporte é matéria de construção, com a água, a pedra, o aço e o vidro a limitá-la.
[espaço]
A massa de terra sob a plataforma de relva é escavada e construída de dentro para fora. o carácter destes espaços interiores vai-se deduzindo a partir dos espaços do palácio.
[conceito]
Depois de assistir a uma das minhas conferências, henry ciriani propôs uma interpretação dos meus trabalhos : um dos aspectos principais e recorrentes passa pela definição de um novo planohorizontaldereferência -nestecasooplanodarelva–apartirdoqualoprojectose constrói em positivo e negativo.
Penso que tinha razão nesta interpretação. os arquitectos procuram sempre propor sínteses estáveis no tempo. as escalas de desenvolvimento das cidades e um certo indeterminismo e descontrole que lhes está associado fez-nos perder capacidade de previsão do futuro do espaço urbano.
Em arte existe a noção de « campo » que é a prévia definição do espaço da intervenção. a necessidade que sinto de redefinir um plano horizontal de referência corresponde à definição do « campo ». materializado, este funciona como a folha branca ou a tela ou o palco iluminado no teatro ou na dança. o plano horizontal de relva, abstracto e matérico é a convenção necessária num universo fragmentário e ligeiramente caótico.
Informação Complementar:
- Fundações e estrutura: AFA consultores de engenharia – Pedro Morujão
- Instalações hidráulicas e de gás: AFA consultores de engenharia – Paulo Silva
- Climatização: José Galvão Teles, engenheiro
- Instalações elétricas , telecomunicações s e seguração: Ruben Sobral, engenheiro
- Projeto de segurança: EACE, João Caxaria
- Paisagismo: GLOBAL, João Gomes da Silva, arquitecto paisagista
- Área: 14.200 m2
- Custo: 4.000.000€
- Promotor: Presidência da República Portuguesa